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Resumos das mesas

Reforma, humanismo e estudo da religião

Prof. Dr. Eduardo Gross (UFJF)

A relação de afinidade e contraponto entre o movimento da Reforma e o humanismo renascentista tem sido debatida constantemente. É inegável, entretanto, que o ideal de formação humana que os humanistas propuseram foi um elemento importante nas reformas pedagógicas e universitárias que se seguiram à Reforma. Particularmente o papel de Felipe Melanchthon merece menção nesse sentido. Assume-se a proposta de Eliade, para quem o estudo da religião deve ser compreendido dentro dos moldes da formação humanista, assume-se também a afirmação de Gadamer, para quem as ciências do espírito assim como definidas por Dilthey não possuem um método próprio, mas pressupõem a tradição dos estudos humanistas. Nesse sentido, discute-se a importância da contribuição da Reforma para o desenvolvimento desta longa tradição humanista de que os estudos da religião fazem parte.

Calvino antes do Calvinismo

Prof. Dr. Zwinglio Motta Dias (UFJF)

Uma tentativa de leitura da especificidade da Reforma calviniana e do caráter do reformador de Genebra para além das imagens criadas por seus intérpretes ao longo do tempo. Estas, na maioria dos caso, fixaram-se em alguns aspectos de sua obra assim como em algumas formulações teológicas unilaterais, desconhecendo o conjunto de seu trabalho e seu impacto no posterior desenvolvimento do Protestantismo, tanto na Europa como no novo mundo. Nesta apresentação procuramos destacar sua visão da nova era que se aproximava assim como suas ênfases como pastor, educador e homem público, mostrando que foi “um homem de seu tempo”  mas com uma visão para além dos limites da realidade que o cercava.

A dialética entre Lei e Evangelho quinhentos anos depois: uma releitura em chave kierkegaardiana

Prof. Dr. Jonas Roos (UFJF)

Sabe-se que a dialética entre lei e evangelho é ponto central não apenas no pensamento de Lutero, mas para o desenvolvimento e a identidade da própria Reforma Protestante como um todo. No contexto das comemorações dos quinhentos anos da Reforma, este texto se propõe reler esta dialética a partir dos conceitos de desespero e subjetividade como trabalhados por Kierkegaard. Em uma esteira claramente luterana, este pensador entende que é apenas através da consciência que o indivíduo toma do próprio desespero que pode emergir a subjetividade enquanto processo de construção de si-mesmo. Estes conceitos-chave serão definidos, sua dialética será desenvolvida e, por fim, se mostrará algo de sua atualidade e implicações para pensar o conceito de religião.

Reflexos da formação teológica de Rudolf Otto e suas influências em Das Heilige

Prof. Dr. Carlos Eduardo Calvani (UFS)

Embora tenha se tornado um clássico na área de Ciências da Religião, ou nos “Estudos de religião”, “Das Heilige” de Rudolf Otto (1917), tem sido denunciado por vários pesquisadores como uma criptoteologia. Não por acaso, ao menos no Brasil sua recepção sempre foi muito entusiástica por parte de pesquisadores e teólogos vinculados a processos de formação teológica cristã (no âmbito das igrejas) ou mesmo em certas agências missionárias. Pretende-se neste texto recolher algumas informações sobre a formação teológica de Rudolf Otto, destacando seus vínculos com a tradição luterana, e as possíveis influências do Pietismo, do Romantismo alemão e do Kulturprotestantismus em sua obra, bem como seus compromissos institucionais com programas de renovação litúrgica de sua época, a fim de verificar até que ponto o peso teológico dessas tradições influenciou a obra de Otto.

Rudolf Otto e a fenomenologia da religião

Prof. Dr. Frederico Pieper (UFJF)

No Brasil, há recepção do pensamento de R. Otto como expressão de uma fenomenologia da religião. Essa comunicação tem por objetivo discutir em que medida sua proposta pode ser enquadrada nessa perspectiva.

Para tanto, em primeiro lugar, pontua-se a distinção entre fenomenologia da religião (que remete ao século XIX) e fenomenologia filosófica (conforme elaborada por Husserl). Em segundo lugar, argumenta-se que a associação de Otto à fenomenologia se deve ao reconhecimento de certas proximidades de seu pensamento com a fenomenologia da religião e, principalmente, à carta de Husserl a Heidegger na qual reconhece em Otto um exercício fenomenológico em torno “da consciência de Deus”. Por fim, argumenta-se que Otto desenvolve mais uma filosofia da religião do que propriamente uma fenomenologia.

De Naturalismo e Religião a O Sagrado: contribuições do pensamento de Otto em duas épocas de mentes secularizadas

Prof. Ms. Humberto Araujo Quaglio de Souza (UFJF)

As últimas décadas do século XIX e as primeiras décadas do século XX viram crescer e estabelecer-se um forte, e por vezes desmedido, espírito de confiança nas ciências da natureza como instrumento principal para compreensão do mundo. Em tal ambiente intelectual a expansão da secularização das mentalidades também ganhou impulso, em um movimento observável até os dias presentes. Esse quadro foi propício ao fortalecimento de cosmovisões materialistas que consideram o fenômeno religioso como algo sem relevância, ou que até mesmo se opõem francamente à religião. A observação do desenvolvimento do pensamento de Rudolf Otto, desde a publicação de seu livro Naturalismo e Religião em 1904 até a publicação, em 1917, de O Sagrado, revela nesse autor um pensador consciente dos possíveis rumos que a academia e a cultura ocidental poderiam tomar a partir desse quadro. Seus escritos, portanto, tiveram importante papel nos meios intelectuais de seu tempo, e igualmente ainda têm muito a dizer em nossa época, tão semelhante à dele em muitos aspectos.

Protestantismo: em teoria, religião

Prof. Dr. Joe Marçal G. Santos (UFS)

É consenso associar a tradição da Reforma Protestante a um espírito crítico em relação à religião. Lutero, contraditoriamente, é mais um ícone do que referência para essa compreensão, na medida em que, no decorrer do tempo, o “protestantismo esclarecido” se abdica mais e mais do religioso e investe na moral. Isso poderia explicar porque a reflexividade crítica atribuída ao protestantismo dificilmente é compreendida a partir de suas bases teológicas, reiterando a noção comum de que o moderno se afirma no contraste com a religião – por razões sociológicas, psicológicas, econômicas etc. As teorias modernas da religião, nesse sentido, são amplamente devedoras deste pressuposto secularizante e correlativamente reféns daquilo que ignoram, isto é, as origens teológicas da própria modernidade. A proposta neste texto é desenvolver esse problema e argumento, bem como traçar aspectos da “raiz teológica” tanto da modernidade quanto da teorização crítica da religião. O que resultar disso talvez lance luz para se compreender que, em teoria e na prática, o protestantismo continua sendo religião.

 

Teoria da religião: questões epistêmicas e traços históricos

Prof. Dr. Davison Schaeffer de Oliveira (UFJF)

Este texto propõe-se discutir o papel da teoria da religião para a Ciência da Religião, considerando tanto aspectos epistemológicos quanto traços históricos de sua formação no âmbito da tradição protestante moderna. A primeira parte da exposição visa delinear as principais coordenadas e premissas epistêmicas da pesquisa científica da religião, dentro da qual se desenrola, entre outras controvérsias, a da legitimidade do uso do conceito de sagrado e do emprego de métodos fenomenológicos. Objetiva-se demonstrar que parte destas disputas se dirige especialmente contra o risco de interferências teológicoapologéticas no trabalho científico, cujos motivos ultrapassam, naturalmente, a esfera epistemológica. Por sua vez, a segunda parte da exposição investiga as fontes teóricas da religião na modernidade, considerando especialmente sua interface com a teologia. Para tanto, buscar-se-á delimitar algumas razões histórico-sistemáticas que, particularmente no cenário protestante europeu, influíram decisivamente para a consolidação de disciplinas, tais como a Filosofia da Religião e a Ciência da Religião, no transcurso dos séculos XVIII e XIX. Neste particular, para os modelos teóricos da religião na primeira metade do século XIX, destaca-se a posição paradigmática do teólogo alemão Friedrich Schleiermacher (1768-1834). Finalmente, sem pretensões de ser completo ou exaustivo, propõe-se avaliar que lições se espera retirar de tal esboço epistemológico e histórico com vistas a contribuir para o atual estudo da religião.

 

Conexões de sentido e horizontes entre a Reforma, o protestantismo e a ciência da religião

Prof. Dr. Arnaldo Huff Jr. (UFJF)

Desdobramentos do protestantismo facilitaram o surgimento da ciência da religião enquanto disciplina acadêmica. A conexão umbilical entre as atividades universitárias dos reformadores de Wittenberg e o nascimento da Reforma é talvez o primeiro fator genético que deve ser considerado, uma vez que constitui um ambiente de estudo da religião independente da autoridade papal. Naquele contexto, todavia, o estudo da religião se dava em íntima conexão com o que se passava na vida de indivíduos e grupos. A Reforma, nesse sentido, eclodiu no exato encontro entre a vida acadêmica e a vida comunitária. Já na virada do século XIX para o século XX, o avanço de perspectivas cientificistas e evolucionistas nas universidades trouxe também consequências profundas para o estudo acadêmico da religião. Traço marcante que se firmou é o do ideal de uma ciência da religião desapaixonada, emancipada da teologia, que se desdobra em um tipo de prática acadêmica distante dos problemas religiosos e práticos da vida social. Configura-se, assim, uma espécie de estagnação ou paralisia autocentrada, em versões analítico-crítica e cultural-compreensiva. Possibilidades alternativas ante tal paradigma podem, porém, ser vislumbradas inclusive dentro da própria disciplina, como sugerem Mircea Eliade e Ninian Smart, por exemplo. Também a formação de uma ciência aplicada da religião indica alternativa semelhante. Este estudo põe-se em mesma direção, a partir da discussão das ideias de humanização e de presença da ausência, respectivamente de Richard Shaull e Rubem Alves, como possíveis contribuições ao debate em perspectiva protestante.

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